domingo, 14 de agosto de 2016

Mudança de planos

Curaçao, 14 de Agosto de 2016.
Morar a bordo é assim, já percebemos que podemos até planejar mil coisas mas elas podem mudar a todo momento. Mesmo que tenhamos muitos planos de viagens, precisamos controlar a nossa ansiedade, ter calma e realmente viver um dia de cada vez.
Estávamos planejando sair de Curaçao esta semana e conhecer a ilha de Bonaire tão falada pelos mergulhadores pela água claríssima e grande variedade de vida marinha. Mas vamos ter que adiar nossos planos por algumas semanas.
Depois que o Rodrigo fez um mergulho junto com os meninos para limpar o fundo do barco (o trabalho aqui é sempre em equipe) percebeu que o fundo já não está muito bom.
A água salgada em contato com o barco acaba com a tinta e o fundo fica cheio de cracas (tipo mariscos) e quanto mais elas cresçam mais forte elas ficam aderidas no casco e mais lento e feio o barco fica. Para prevenir esse problema é preciso pintar o casco do barco a cada um ou dois anos com uma tinta venosa.
No nosso caso a pintura do fundo até que poderia esperar mais um ou dois meses, mas o que mais nos incomodou foi uma pequena folga que encontramos no nosso leme – essa, sim, podendo se tornar um problema muito maior. Já imaginou perder o leme em alto mar?
A conclusão é que vamos tirar a nossa casa da água para uma semana de trabalho e adiar um pouco a nossa primeira pequena e tão esperada travessia. Já entramos em contato com uma outra Marina daqui de Curaçao, e iremos até lá para uma semana intensa de pintura e revisões.
Morar a bordo, além do trabalho, tem suas surpresas (boas e ruins) e desafios. Mas a males que vem para o bem. Antecipar a subida do barco significa também prevenir problemas futuros.
Com o barco no seco nossa vida deve dar uma boa bagunçada, pois não poderemos usar o banheiro, tomar banho, lavar louça..  Que tal ?! Mas a nossa maior preocupação é mesmo com as crianças. Como vai ser para eles uma semana sem o mar azul preso em um estaleiro quente?
Hoje eles estão curtindo muito a praia, passam horas mergulhando procurando peixes, passam horas fazendo buraco na areia e brincando de mil coisas. Aliás, eles não precisam de muita coisa pra se divertir: apenas a água, areia, umas pedrinhas, uns galhos e a imaginação vai longe. Dá prazer ficar olhando os nossos filhos tão livres e felizes. A cada semana eles estão mais à vontade no barco e na nova vida. 

Enfim, vamos ver como será mais este etapa. Em breve mandarei notícias do “seco”, literalmente.



**** TEXTO PRODUZIDO PARA A REVISTA PAIS & FILHOS
http://www.paisefilhos.com.br/blogs-e-colunistas/raquel-ganimi/mudancadeplanos/

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Amizades

Curaçao, 5 de Agosto de 2016 

Muitos acham que a vida no mar é uma vida solitária, diferente da cidade, onde a vida social é ativa e as amizades são diversas. Em poucos dias por aqui pudemos provar o contrário.No dia seguinte que chegamos na Marina já percebemos um movimento no barco colado ao nosso. Logo, os franceses Sylvian e Isabel vieram se apresentar.


O casal é muito experiente no mar. Há mais de 20 anos costuma passar longos períodos a bordo velejando e trabalhando do barco. Já cruzou o Atlântico, rodarou o Caribe e pretende ir para o Pacífico em breve. A amizade foi imediata. Eles foram super simpáticos, prestativos e muito nos ajudaram nos nossos primeiros 15 dias a bordo. Visitamos o barco deles e lá aprendemos muito sobre organização e provisionamento. O barco, inclusive, é impecável, extremamente organizado. Do Sylvian, vieram várias dicas de ancoragem e manutenções preventivas.



A vida no mar é curiosa. Tudo é mais intenso. Cada dia de convivência vale por meses. E em poucos dias parecia que éramos amigos de muitos anos. Fizemos um churrasco brasileiro para eles no Itacaré e eles fizeram um jantar francês para nós no Oxygen – do jeito tradicional como um jantar francês deve ser: entrada, prato principal, queijos, sobremesa e muito vinho. Foi uma delícia.


Em pouco tempo eles seguiram viagem rumo as ilhas da Venezuela (Los Aves e Los Roques). As crianças sentiram – apesar do pouco tempo, elas também tinham criado vínculo. Passaram a semana seguinte um pouco tristinhos dizendo que não tinham amigos e até mencionando que gostariam de voltar para o Brasil.


Nessa hora que a gente precisa se desdobrar para dar mais atenção a eles e se dividir com as tarefas diárias que a vida a bordo exige. Mas aos poucos eles vão se adaptando e percebendo que por aqui será assim: novas amizades a cada dia, intensas, e que vem e vão… Às vezes, rápido demais.


Na semana seguinte estávamos atracados em um Pier na entrada do canal aqui em Curaçao quando dois barcos cruzaram nosso lado com umas bandeiras lindas verde e amarelo na popa. Nossa reação foi expontânea: “Brasiiilllll!!!!”, gritamos para eles em coro.


Os barcos Gentileza e Arthi – vindos de Bonaire (uma ilha próxima a Curaçao) chegaram para dar mais movimento e alegria aos nossos dias. Foi uma festa!! É incrível como ficamos carentes de amigos e de companhia.





Os meninos arrumaram duas amiguinhas de 5 e 13 anos e ficaram felizes da vida. Já fizemos churrascos, jantares, caminhadas, e assim nossos dias ficaram mais agitados. O vai e vem das crianças de um barco pro outro é como a vida normal na cidade dentro de um condomínio. A diferença é que nossa casa boia.


Estamos planejando a nossa saída de Curaçao para as próximas semanas quando iremos para Bonaire. Será nossa primeira travessia em família e os meninos não vêem a hora de encarar o mar aberto.

Com certeza novas amizades nos esperam pois a vida no mar é assim – e a felicidade somente é plena quando ela é compartilhada.







**** TEXTO PRODUZIDO PARA A REVISTA PAIS & FILHOS
http://www.paisefilhos.com.br/blogs-e-colunistas/raquel-ganimi/amizades/